Uma das grandes produções do universo Marvel dos últimos anos é sem dúvidas o filme Pantera Negra. O blockbuster é um dos mais bem avaliados do gênero e acumulou quase US$ 1.5 bilhão de vendas nas bilheterias no seu período de lançamento. Mas, além de tudo isso, um impacto importante que o filme teve na cultura pop foi o de apresentar ao mundo um novo conceito: o afrofuturismo.
Engana-se quem acredita que o termo tenha surgido do filme, ou que ainda seja recente. Ele surgiu na verdade em 1994 quando Mark Dery o cunhou enquanto fazia análises literárias de escritores negros que criavam, no campo da ficção, novas realidades à população negra. O ensaio consiste em uma entrevista que marca um ponto importante da história, onde se questiona a falta de representatividade negra em obras literárias, ou, quando ela acontece, o fato dela sempre ser associada aos cenários de subordinação. A partir daquele momento, o conceito fura a bolha literária e passa a fazer parte de diversas manifestações artísticas, sejam elas na moda, na fotografia, na música ou, ainda como dito anteriormente, no cinema.
A provocação que o afrofuturismo traz é a de, principalmente, pensar nas narrativas de futuro a partir da história de povos que sofrem constantemente com o apagamento de suas origens. Olhando para a realidade brasileira e o seu histórico escravocrata, por exemplo, os ativistas que falam sobre o afrofuturismo começam, por meio da cultura pop e da estética, a introduzir novas possibilidades de existência, onde a população negra é de fato pensada junto aos avanços tecnológicos e a produção de futuro como um todo. O movimento consiste em nos fazer pensar no futuro também, incluindo pessoas pretas, uma vez que de forma inconsciente a tendência é que criemos imagens de futuro em que figuras pretas são escassas, isso quando elas, se quer, são pensadas.
O afrofuturismo cria possibilidades de vivência para a população preta, ao mesmo tempo que expande, problematiza e cria reflexões mais abrangentes ao restante da população, quebrando o conceito de universalidade hegemônico. E o impacto disso na cultura pop é importante, uma vez que é por meio dela que grande parte do nosso conceito de universalidade é construído. É, consumindo essas imagens através da música, das manifestações artísticas, dos movimentos estéticos e de várias outras frentes visuais que vai ser cada vez mais possível pensar no futuro de forma mais plural e diversa.